SEIOS E ANSEIOS
As vezes que morri
boca derramada entre os teus seios,
todas essas vezes
não me deram luto
porque, de mim, eu em ti nascia.
Todos esses abismos,
meu amor,
não me deram regresso.
Depois de ti,
não há caminhos.
Porque eu nasci
antes de haver vida,
depois de tu chegares.
DORMES BEIJO
Dormes. Não quero o meu primeiro beijo:
Não há no mundo senão teu rosto. basta-me
o instante antes do beijo.
O céu sob o tecto Quero-me
espera comigo que despertes. corpo ante o abismo,
terra no rasgão do sismo.
O meu único relógio
é a sombra imóvel no chão do quarto. O lábio ardendo
entre tremor e temor,
A curva da terra o escurecer da luz
em tua pálpebra desenhada: no desaguar dos corpos:
no teu sono me embalas. o amor
não tem depois.
Dormes-me.
Quero o vulcão
que na terra não toca:
o beijo antes de ser boca
FALA DA MULHER QUE SE PENSA GORDA
(...)
Às vezes,
sonho-me dizendo-te:
sou teu algodão doce.
Vem, dissolve-me em tua boca,
seja eu sal da tua saliva.
(...)
Mia Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário