segunda-feira, 30 de maio de 2011

EFABULAÇÕES DE UMA TÍBIA

    Ouvia, aterrada, o som que, em poucos segundos, passara de um ruído ciciante, que lhe lembrava uma broca de dentista, a um barulho estridente, ensurdecedor. A senhora da serra eléctrica, qual personagem de um filme de terror de série B, dirigia-se para eles, ostentando, estranhamente, um sorriso amistoso. Continuava a tagarelar por baixo do som atroador. Seria o fim? Mas se tudo não passara de um arrufo de namorados! Encolheu-se o mais que pôde e ouviu, então – finalmente! -, a voz dele:

    - Tíbia!
    
    Ah, pois! Agora que o fim se aproximava a dentes largos e nada mais havia a fazer é que ele se dignava falar-lhe! Tipicamente masculino!
É certo que tinha consciência de ter sido ela a causadora daquela situação. A causadora, não a responsável! O rompimento dera-se há duas semanas e meia, mas a situação arrastava-se há muito mais tempo. Não conseguia determinar quando é que ele começara a desinteressar-se dela. A verdade é que não era osso de meias-palavras, de deixar o que quer que fosse por dizer. Por isso, depois de várias insinuações e provocações, explicou-lhe que se sentia incomodada com o rumo que tinha tomado aquela relação. Namoravam há dois anos, é certo, e pressupunha-se até que os arroubos dos primeiros tempos tivessem diminuído de intensidade. Mas, como amigos tinha ela o fémur, com quem conversava diariamente, o rádio, que frequentemente se deixava dependurar para lhe dar notícias do que se passava no esqueleto, mais acima, e o tarso, que estava sempre ansioso por trocar não dois, mas vários dos seus dedos por conversas. No início, Perónio fazia-se desentendido e não respondia às provocações dela. Mas, confrontado com o pragmatismo daquele osso insistente lá foi deixando cair a ideia de que algo no comportamento da Tíbia o tinha levado àquele afastamento. Ela bem insistiu para que ele fosse claro, directo, não rodeasse a questão. Mas ele manteve-se firme naquele limbo do não-sei-se-diga, não-sei-se-conte. Ora Tíbia, osso longo e robusto, não menos duro de roer do que o casmurro Perónio, armou-se de brios e deixou bem claro que ossos adultos não deveriam comportar-se como ossinhos mimados. Se não queria esclarecer a situação, mesmo sabendo que o seu silêncio a magoava, o melhor seria separarem-se. Veria com quantas células se constrói uma tíbia! Ele manteve-se quieto. E, assim, naquela noite de Primavera anunciada, Tíbia e Perónio, com um quebrar de ossos estriduloso fracturaram-se, na disposição de se manterem de ossos voltados para sempre.

    No entanto, tal proeza não era fácil de sustentar. Algumas horas depois, duas mãos envolveram-nos numa matéria branca, molhada e robusta. Condenados por três longos meses àquela prisão, com o objectivo de voltarem a juntar-se, consolidando-se, assim, para sempre, nenhum dos dois queria ceder. Durante as primeiras 48 horas resistiram o mais que puderam, mas o esforço físico necessário era demasiado intenso e, confinados ao exíguo espaço que lhes tolhia os movimentos, começaram a deixar ceder a matéria sem, contudo, se permitirem um olhar ou uma palavra. E agora ali estavam. Iam convictos de que as mesmas mãos experientes que os haviam encerrado há duas semanas e meia lhes mudassem a prisão para uma mais suave, por bom comportamento.

    Os dentes de aço rasaram a prisão branca e gelada. Célula a célula, Tíbia e Perónio começaram a juntar-se. Mas já nada havia a fazer. A roda dentada estava a poucos milímetros da pele e em poucos segundos rasgaria a carne que os protegia, estraçalhando-os num ápice. Preparam-se para o fim.

    Subitamente, o barulho cessou. A senhora da serra eléctrica abriu a prisão como se de uma casca de ovo se tratasse. Hidratou a pele da perna e as conhecidas mãos experientes voltaram a construir à volta de Tíbia e de Perónio uma nova prisão. Branca, mas mais leve e menos fria. Um prémio pela subtil cedência de ambos? Talvez. Tíbia e Perónio tinham, ainda, dois longos meses de cárcere forçado … e uma questão de afectos para resolver! …

                                                                                                Simone

quinta-feira, 26 de maio de 2011


A NOIVA

A tarde apresentava-se quente e soturna. Há duas horas que se encontrava naquele salão atulhado de gente, de vozes, de móveis, de pensamentos. O vestido colava-se-lhe à pele, os sapatos apertavam-lhe os pés e os ganchos que lhe seguravam o cabelo num arrojado penteado, suspenso da grinalda de flores brancas – uma quase súplica do noivo -, arranhavam-lhe o couro cabeludo. A ostentação da festa, cereja podre no topo do bolo rançoso que era a sua vida, dava-lhe náuseas. Não era o casamento dos seus sonhos, não era o marido dos seus sonhos, a sua nunca fora a vida dos seus sonhos. Sentia-se sufocar de calor, de comida e de gente.
Aproveitando um instante de maior confusão, a noiva esgueirou-se pela ampla porta que dava acesso a um corredor que a tiraria dali rapidamente. Ao passar pelo belíssimo espelho de estilo regência, datado do século XVIII, à sua direita, suspirou. Não era bonita. Baixa, anafada, de pele trigueira e banais olhos castanhos, sentia-se, agora, ridícula naquele longo vestido cheio de folhos e rendas que a desfavorecia, claramente.
Por entre sorrisos e cumprimentos conseguiu chegar à entrada do luxuoso hotel. Desceu os poucos degraus que a separavam do exterior, ignorou a fonte seca com que se deparou e virou à direita. Não estranhou a solidão do local atribuindo-a ao calor abafado que se fazia sentir. Agradou-lhe aquela liberdade e seguiu pelo estreito passeio que acompanhava o edifício contíguo ao hotel. Todas as portas estavam encerradas, mas lembrava-se bem do interior de cada uma. Parou junto à entrada da velha loja de brinquedos onde, quando era pequena, a madrinha a tinha levado. “Escolhe o brinquedo que mais te agradar”, dissera. Os padrinhos eram pessoas endinheiradas e costumavam passar férias naquele complexo termal. Todos estranharam quando a menina escolheu o boneco mais feio que havia na loja. Grão-de-bico, passou a chamar-se. A madrinha, consternada com aquela escolha, incentivou-a a escolher, ainda, outro brinquedo. A cadeirinha vermelha de madeira polida e brilhante resistiu mais tempo que o malfadado boneco.
Continuou pelo passeio e, ao verificar que o pequeno café que ainda ali existia estava fechado, atravessou o largo e desceu por um estreito carreiro de terra batida. Já não se lembrava bem daquele caminho, mas a necessidade de se afastar do salão onde decorria a boda fê-la continuar. O calor aumentava e o vestido de folhos mostrava já enormes manchas de suor. Aflita, tirou os sapatos que quase não a deixavam respirar. De qualquer forma, mais tarde, ninguém perceberia a sujidade dos seus pés por baixo daquele espaventoso vestido.
A terra batida dera lugar a uma espécie de areia grossa cheia de pedras. Cheirava-lhe a água. E então viu-o. Verde, lodacento, umbroso. Do seu lado esquerdo, o lago quedava-se, silencioso, por entre algumas canas e árvores finas cujos nomes desconhecia. Instintivamente, encostou-se ao mato, à sua direita. Não gostava de água. Não se tratava de uma fobia, mas nunca mostrara apetência para o que quer que fosse que se relacionasse com água. Daquele lago, sobretudo. Lembrou-se, então, de que, mesmo quando era pequena e ali ia, com os pais, visitar os padrinhos, e o lago estava cheio de crianças que se divertiam a passear nas “gaivotas”, ela recuava sempre. O lago intimidava-a, arrepiava-a. E, agora, mulher adulta, no dia do seu casamento, tinha ido parar precisamente ali. A ideia de voltar para trás punha-lhe um nó na garganta. Avançou uns passos e, aos poucos, sempre afastada da margem, foi ganhando confiança no passeio.
Repentinamente, uma curva do caminho desenhou, na sua frente, uma ponte de madeira, com cerca de 15 metros de comprimento. Lembrava-se que, por baixo, passavam, antigamente, os risos das crianças, os gritinhos das raparigas e os sussurros dos namorados tranquilizando-as. Era preciso baixar a cabeça para se conseguir passar nas domingueiras “gaivotas” vestidas de verde, amarelo e vermelho. Mas, agora, nem o canto dos pássaros se ouvia. O silêncio fazia-se sentir como uma presença humana. Tal como a humidade.
 A noiva começou a subir a ponte. Por baixo, a água, parada, por entre os velhos barrotes de madeira. Parou ao chegar ao cimo, a parte mais alta. Sentia-se estranha. Sempre se afastara daquele local e, agora, pelo contrário não conseguia afastar-se dele. A ponte parecia-lhe cada vez menos segura. No sítio onde parara, precisamente, os barrotes de madeira, cruzados, que serviam de corrimão, estavam partidos, carcomidos pelo desgaste do tempo, da humidade e da falta de manutenção.
Mas os olhos da noiva estavam fixos na água lodosa. A imagem desenhava-se, distorcida, bem lá no fundo. Uma alga branca, provavelmente. O ribombar do trovão foi como um choque eléctrico. Desviou o olhar para o céu que se tornara escuro. Nem relâmpago nem chuva. Só o trovão. Seco. Ameaçador. Baixou, novamente, os olhos. A alga continuava branca. E sorria. Um sorriso disforme, um esgar, que ondulava num rosto visivelmente de mulher. A noiva não conseguia despregar os olhos da figura. Baixou-se. Algo se desprendia da imagem e subia até ao cimo da água. A viscosidade colava-se-lhe à pele como uma garra. Um véu. Branco. De renda. Flutuava mesmo ali. Esticou-se. Sabia que conseguiria tocar-lhe. Esticou o braço. Se se esticasse mais um pouco. Só mais um pouco …


 * * *

A noite chegara mais abafada que o dia. Pesada, lúgubre. Algumas luzes piscavam ainda no portão de ferro que servia de entrada ao espaço termal. Os últimos convidados saíam num silêncio de luto inesperado, improvável. 
 
         Sentado nos degraus da velha loja de brinquedos, o noivo fixava o pequeno lago que a grinalda de flores brancas, nas suas mãos, ia formando no chão. Um lago verde, lodacento, umbroso …




                                                                                                                      Simone

sexta-feira, 20 de maio de 2011

 


Um presente para o Saulo. :)

                                                                                                                                          Simone

quarta-feira, 18 de maio de 2011

TRADUTOR DE CHUVAS

SEIOS E ANSEIOS                                                  

As vezes que morri
boca derramada entre os teus seios,
todas essas vezes
não me deram luto
porque, de mim, eu em ti nascia.

Todos esses abismos,
meu amor,
não me deram regresso.

Depois de ti,
não há caminhos.

                                               Porque eu nasci
                                               antes de haver vida,
                                               depois de tu chegares.







DORMES                                                                                    BEIJO

Dormes.                                                                                     Não quero o meu primeiro beijo:
Não há no mundo senão teu rosto.                                            basta-me
                                                                                                   o instante antes do beijo.

O céu sob o tecto                                                                       Quero-me
espera comigo que despertes.                                                   corpo ante o abismo,
                                                                                                    terra no rasgão do sismo.
O meu único relógio
é a sombra imóvel no chão do quarto.                                       O lábio ardendo
                                                                                                   entre tremor e temor,
A curva da terra                                                                          o escurecer da luz
em tua pálpebra desenhada:                                                      no desaguar dos corpos:
no teu sono me embalas.                                                          o amor
                                                                                                   não tem depois.
Dormes-me.
                                                                                                  Quero o vulcão
                                                                                                  que na terra não toca:
                                                                                                  o beijo antes de ser boca




FALA DA MULHER QUE SE PENSA GORDA

(...)

Às vezes,
sonho-me dizendo-te:
sou teu algodão doce.
Vem, dissolve-me em tua boca,
seja eu sal da tua saliva.

(...)

                                                                   Mia Couto

domingo, 15 de maio de 2011

O CÃO DE SÓCRATES



Não me agradam, particularmente, humoristas, programas de humor, filmes de humor, anedotas e afins.No entanto, não me lembro de ter rido alto ao ler um livro! "António Ribeiro" revelou uma sagacidade extraordinária na escolha criteriosa dos casos que compõem o livro e uma assertividade equilibrada no tratamento dos mesmos. Uma crítica social a lembrar as fábulas, mas sem a moralidade explícita, no fim. Essa será modelada por cada leitor, de acordo com a sua visão política - sendo que a política é, cada vez mais, parte integrante do nosso quotidiano - dos acontecimentos protagonizados, nos últimos anos, pela personagem que é, afinal, a personagem principal do livro, já que é ela que, segundo o narrador, motiva a sua escrita e determina o rumo da sua própria história ... e da nossa! Uma sátira social de um humor finíssimo!

                                                                                                                                                        Simone

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O TEMPO ENTRE COSTURAS


    A história de uma mulher simples, costureira de profissão, de horizontes estreitos, que se se supera transformando a sua vida e a sua personalidade. Torna-se independente, autónoma e glamourosa sem nunca perder a alma. Vive a guerra civil de Espanha longe da sua Madrid, em Marrocos, o protectorado espanhol. No entanto, acaba por desempenhar um papel de alguma relevância na 2ª Guerra Mundial, como espia. Personalidades reais e célebres passam pela história desempenhando papéis de personagens secundárias na História cujo rumo determinaram.
                      

    Gosto de histórias longas para poder desfrutar de tempos, espaços e personagens durante algum tempo, antecipando o desapego de que, obrigatoriamente, necessitarei. 

    História muito, muito, muito interessante!

                                                                                                                                                      Simone

domingo, 8 de maio de 2011

UM LONGO CAMINHO PARA CASA

    Uma boa história e boas personagens são, obviamente, ingredientes indispensáveis para uma leitura agradável. Mas, a falta de um cenário que envolva, criteriosamente,o enredo torna tudo um pouco insípido.
    Uma história pungente, personagens fortes, mas ... faltou qualquer coisa.

                             
                                                                          Simone
                            

                                                                                                                                                                                      

sábado, 7 de maio de 2011

REMÉDIO D'ALMA

CAPÍTULO I - PARTE 5

Adivinhou-lhe a presença, mesmo antes de lhe ouvir a voz.
- Boa tarde.
Virou-se, furiosa, mas o sorriso quase inocente dele desarmou-a durante alguns segundos. Rapidamente se recompôs e preparava-se para descarregar a raiva que sentia. De mão estendida para ela, o homem não tinha consciência alguma do estado de nervos em que a sua demora a deixara!
- É um prazer, finalmente, conhecê-la!
Providencialmente, Manuel Caseiro aproximava-se. E depois o conhecidíssimo sociólogo que dissertaria sobre o assunto do livro. E depois João Souto. E depois outro e mais outro convidado. Em poucos minutos tudo se precipitou. E Madalena não conseguia aproximar-se de Duarte Medeiros. Aos poucos, a fúria que sentia começou a dissipar-se. E Madalena passou a ser o que era sempre: a anfitriã perfeita. Durante a meia hora que antecedeu a apresentação do livro, Madalena e Duarte fizeram as honras do evento, recebendo os convidados e criando uma atmosfera de agradável convívio. Por vezes apanhava-o a olhá-la com um ar que não conseguia decifrar. Rir-se-ia dela? Sentir-se-ia … por saber da sua aflição? Tinha de perder aquela mania de tentar adivinhar o que pensavam os outros! 
Estava no seu ambiente e tudo parecia perfeito. O sol entrava pelas vidraças da galeria, iluminando naturalmente as fotografias, antigas e recentes, do castelo de Almourol, que enchiam as paredes. Abria as cores dos vestidos primaveris das mulheres e punha-lhes reflexos dourados nas madeixas dos cabelos. Madalena, cujo cabelo, comprido e liso, de um castanho-claro que considerava até bastante banal, nunca conseguira perceber por que motivo as morenas se pintavam de louro. Tinha escolhido um vestido em tons verdes e branco, de manga comprida, mas com um decote discretamente pronunciado. Sabia valorizar o seu corpo sem o expor demasiado. Os sapatos, de saltos altos e finos, de um verde mais escuro que o do vestido, compunham o conjunto. Nas orelhas, umas argolas, minúsculas, de ouro, e, no pulso esquerdo, o fino relógio de ouro que o pai lhe oferecera há alguns anos e uma pulseira, também de ouro, de malha simples, que combinava com o fio que trazia ao pescoço. Simples, mas elegante.
A voz dele trouxe-a de volta do lugar para onde, por momentos, se tinha evadido. Alta, clara, prendendo a atenção de todos os presentes. Falava do livro, do que o motivou, da dedicação ao mesmo … Mas era, sobretudo, a forma como dizia. Como se cada um dos presentes fosse o único, como se ele estivesse ali apenas por cada um deles. O que a irritava era perceber que não era mais importante para ele do que qualquer outro dos presentes, mas sentir-se agradada pela atenção que os olhos dele lhe dedicavam.
A sessão terminou e todos se levantaram. Depois de se dirigirem à bancada onde compraram os livros, os convidados aproximavam-se ordeiramente do autor que os autografava com simpatia, sem solenidade alguma, e sempre de forma personalizada. Entretanto, Madalena encaminhava as pessoas para o jardim, onde as esperava um excelente vinho do Porto e os famosos Queijinhos do Céu, doce típico de Constância.
Mais uma vez Madalena e Duarte não conseguiram conversar, porque ambos eram, de facto, muito assediados por todos. Mas Madalena não duvidava de que ele desejava a sua companhia tanto quanto ela desejava a dele.
                                                                                    
A voz de Duarte chegou até ela, destacando-se por entre os murmúrios do jardim, no tom grave, mas doce que já reconhecia. (Pronto! Lá estava ela, de novo, a adjectivá-lo! E ainda por cima com aquela palavra!).
- …Curioso como certos perfumes conseguem transportar-nos a outros tempos e lugares! Era capaz de jurar que esta é a magnólia que sombreava certo recanto do jardim da minha casa em Castelo Branco!
Ah! Então o senhor Duarte Meireles era de Castelo Branco! Lembrava-se, agora, de ter lido alguma coisa sobre isso, aquando do convite que lhe havia dirigido para apresentar ali o seu novo livro, mas a informação esvaíra-se-lhe da memória.
Ora ali estava um bom tema de conversa. Sim, porque Madalena não pretendia deixar escapar Duarte sem conversar com ele, já que, até aí, não tinham passado do brevíssimo cumprimento inicial. Estava certa de, ao jantar, conseguir criar uma oportunidade de aproximar as suas palavras das dele.
Entretanto, o sol começava a pôr-se. Talvez descontentes com o calor antecipado, os dois rios deixaram-se tomar pelas nuvens que, carregadas, ameaçavam desabar sobre a vila. Receosos, os convidados começavam a sair e aqueles que estariam presentes no jantar dessa noite fizeram saber que iriam refrescar-se nos respectivos alojamentos – porque, apesar da chuva iminente, a tarde acabava quente e soturna - e voltariam cerca das 20.30, hora marcada para o dito repasto.
Duarte despediu-se de Madalena com um discreto aceno de cabeça e um sorriso que ela retribuiu da mesma forma.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O JOGO DO ANJO

Início do século XX. Ainda Barcelona. Mais uma trama urdida com mestria por Carlos Ruiz Zafón. Uma história truncada de outras histórias cujas personagens parecem predestinadas a servirem de marionetas ao Mal, personificado num distinto editor que pretende que o protagonista lhe escreva/invente uma nova religião. Um homem que, ao recusar perder a alma, é condenado a uma quase imortalidade e a ver morrer, pela segunda vez, a mulher que ama. E, novamente, o Cemitério dos Livros Esquecidos, um lugar mágico para quem ama os livros!

Diz-se que em equipa que ganha não se mexe. E Zafón parece reger-se por esta máxima. É certo que pode haver quem considere monótono e pouco criativo manter o mesmo tipo de enredo. Por outro lado, quando nos apaixonamos por um livro, é reconfortante voltar aos mesmos espaços, aos mesmos temas, às mesmas personagens ... Esperemos pelo próximo!

                                                                                                                                            Simone