domingo, 10 de julho de 2011


    CASTELOS NO AR                                                      

    Era uma vez um castelo no ar.
    Tal como acontece com qualquer obra arquitectónica que se preze, a ideia tinha sido concebida há muito, muito tempo atrás. Mas, tratava-se meramente de um esboço, uma ainda quase-ideia nebulosa, imprecisa, mal definida. Nenhum dragão o guardava, nenhuma chave o encerrava.
    A certa altura, porém, certo viajante por ali passou e uma pedra assentou. Por graça, a arquitecta outra pedra acrescentou. E, assim, a ideia começou a ganhar forma, a ganhar corpo. Pedra a pedra – ambos tinham guardado todas em que tinham tropeçado, nos seus caminhos -, os talhos do castelo foram-se tornando consistentes. Construído com vagar, com paciência, a cada dia que passava as altaneiras torres iam tomando cor. Tudo à sua volta se ia iluminando. Viajante e arquitecta compuseram um arco-íris que pintava as paredes do castelo com cores impensáveis. À noite, estrelas flamantes riscavam o céu, cavalgavam sonhos e incendiavam o cenário idílico, envolvendo o castelo em luminárias resplandescentes.
   Mas, a dado momento, vago, e cuja inexactidão não interessa aos nossos leitores, a luzência que cercava o castelo começou a dissipar-se. A princípio mal se notava. Era apenas uma ligeira poeira que obstruía, tenuemente, a luminosidade. Como se tratava de algo pouco perceptível, ninguém se preocupou em indagar a causa de tal alteração. E, assim, a poeira foi-se adensando, lentamente, sitiando o castelo numa bruma espessa, cinzenta. O arco-íris empalideceu até se desvanecerem, por completo, as suas cores. As estrelas, desiludidas, foram-se extinguindo. Em pouco tempo, o castelo no ar voltou ao estado primário de esboço impreciso, uma quase-ideia nebulosa.   
    Era uma vez um castelo no ar.


                  
                                                                                                                                                    Simone

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